Poderia dizer que sou quem eu sou, bom ou ruim, por causa do meu treinamento no Exército de Prata. Foi lá que minha mente e corpo foram rigorosamente e metodicamente torturados, afim de conseguir o soldado ideal para o exército.
Sair de minha casa, o Palácio Code em uma área segura do Anel, foi uma burrada. Admito que ter seguido Iure nessa viagem sem fim foi uma loucura. Ainda me lembro do que ele me disse - "Vai ser bom, você poderá aprender a usar a magia melhor do que nos seus livros" - e me lembro do que eu disse para ele quando iamos para ilha - "Vamos morrer aqui".
Dois anos de treinamento no Anel retiraram de forma segura muito dos meus mimos de nobre, e principalmente o costume de dormir muito, e em uma cama confortável. Mas foi o treino rumo a Ilha que iniciou a modificação verdadeira do meu corpo, e principalmente da minha alma.
Quantas semanas passamos no mar remando como escravos? Sem descansar direito. Levando chibatadas. Sem direito a nada. E quando os barcos de Andrius apareceram? Tivemos que combater exaustos, e por sorte, nem todos nascemos para ser soldados, mas alguns sim inteligentes. Conseguimos imobilizar os veleiros inimigos e fugir em direção a Ilha Neutra.
Ver terra foi confortante, mas os perigos só havia começado. Como o General falava - O Treinamento começou agora - mais uma vez.
Eu não queria saltar do barco. Queria ficar lá com meus livros. Estava apto a desistir. Foi quando Gon me empurrou na água. Acho que ele esquece que papel e água não são uma boa combinação. Ele destruiu não só meus livros, mas o que me mantinha sã naquele redemoinho de loucura.
Chegar a praia foi um desafio mortal para vários candidatos a soldados, e para nós, chegamos por sorte. O caminho de pedra que escolhemos era quase seguro, se não fossem as quedas na água recheada de polvo-roxos e cobras de fole.
O próximo desafio era escalar um barranco de doze metros. Estávamos exaustos, de horas remando, de uma travessia arriscada. De nadar. E a maré subia e precisávamos subir antes que junto com a água surgisse outros inimigos sedentos por nossas carnes.
A escalada foi horrível, com várias quedas e arranhões. A pior foi a de Sam, nosso espadachim, que despencou ficando seriamente ferido. Sam é um rapaz bom, dedicado ao grupo, e como todos ali presentes preso a algo que evitava sua loucura: a espada dele.
Um ou dois dias de descanso, dormimos, comemos, tomamos banho. Fazia tempo que não nos dávamos a esse luxo. Me lembrei da árvore e do rio onde Iure e eu conversávamos antes de nos alistarmos. Me lembrei do que deixei para trás. Tentei esquecer esse turbilhão de magoas e lembranças nos meus livros, mas eles haviam sido destruídos.
Tudo volta ao seu ritmo quando somos enviados para conseguir a aprovação dos nativos, um povo guerreiro por natureza. Isso não era bom, Mas foi pior quando fomos encontrados por eles. Seria o nosso fim, se eles não fossem mais do que a noção de bárbaros, a qual tínhamos.
O combate foi um contra um. Isso era injusto, para nós. Sam se virou bem e matou seu adversário. Eu em um lapso de memória, concentração, conhecimento e sorte conjurei um magia do meu arcanabulo corrompido pela água. Ela deu certo e coloquei dois inimigos a dormir. Isso nos deu a vantagem que precisávamos para mudar o rumo do combate. Não iriamos ganhar mesmo assim, mas provamos que eramos oponentes de valor. E essa prova era tudo que precisávamos.
Muitas vezes as magias falharam, e cada dia mais apesar de eu ter ganhado um grande controle sobre elas, tenho em mente que não são algo confiáveis. Você nunca sabe quando ela vai falhar. Você nunca sabe quando realmente poderá usá-la. Por isso comecei a desenvolver itens mágicos.
Na ilha eu possuía papéis e caneta. Se eu conseguisse transformar essa mágica em algo escrito. Me esforcei para criar meus primeiros pergaminhos. Isso me ajudaria a solucionar meu problema com magia e me impediria de cair em uma loucura total.
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